sexta-feira, 30 de maio de 2008

Ter ou não ter namorado

"Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo.

Namorado é a mais difícil das conquistas.

Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil.

Mas namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida; ou bandoleira basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.

Quem não tem namorado é quem não tem amor é quem não sabe o gosto de namorar. Há quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes; mesmo assim pode não ter nenhum namorado.

Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho.

Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria.

Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida ou impossível de durar.

Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto.

Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor.

Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira - d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.

Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar.

Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.

Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.

Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz.

Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.

Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.

Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.

Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. "

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Mulher mineira, mulher brasileira

O "caldinho" que envolve a mineira e dá a ela este jeitinho tão
gostoso foi preparado em panela de ferro num fogão à lenha!
Mineira não mente, conta lorota.
Não paquera, espia.
Não fica bonita, já nasce formosa.
Mineira não usa perfume e cheira gostoso demais (sô).
Mineira não curte um som, ouve música.
Não fala, proseia.
Mineira não come estrogonofe, mas adora um picadinho.
Não faz crediário, compra fiado.
Não fica pelada, mostra as "vergonhas".
Não erra, comete engano.
Não liga pra ninguém, mas telefona pra todo mundo.
Mineira ama diferente.
Flerta de longe, promete com o olhar e cumpre tudo o que nos fez sonhar.

Ela sabe que amor não é pra discursar, é pra fazer.
Ama com os olhos, com as mãos, com o sorriso, com os gestos.
Conheci muitos tipos de brasileiras.
Faceiras, trigueiras, formosas,poderosas, turbinadas,loiras, morenas,
mulatas, bonitas, mas lhes falta essa brejeirice das mineiras, essa
paciência de tecer sem pressa uma teia de aconchegos e mimos, de
lembranças e sorrisos, que nós das gerais tanto apreciamos.
Existem coisas que já nascem com a mulher e muitas destas coisas estão
diretamente ligadas ao lugar.
Mineira faz doce como ninguém neste país.
Quem já provou doce de cidra ou de leite feito por mineira , sabe o que é
bom.
Goiabada e marmelada, então, nem se fala.
Mineira ensina mais porque, o que há de importante, ela já nasceu
sabendo.
Mineiras se embelezam com bijuterias e ofuscam o brilho de jóias raras.
Vestem-se de chita e ficam bonitas, porque mineira não segue moda: faz
moda.
Mineira não usa tênis, enfeita as alpercatas.
Mineira vai à igreja, assiste missa, comunga, mas por via das dúvidas
toma um passe no centro espírita e joga rosas vermelhas pra Iemanjá no
corgo de frente à horta.
Sabe que são misteriosos os caminhos que levam às graças de Deus.
Escondida por trás da simplicidade de toda mineira está uma guerreira...

Escondida atrás de toda simplicidade e graça está uma brasileira!

Autoria de Domingos Leoni